segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

A LÁGRIMA SALVA VIDAS


A LÁGRIMA SALVA VIDAS
(Daniel Caldeira)

             Numa região não muito longe de cada um de nós, havia uma pequena cidade habitada por lágrimas. As lágrimas eram muito discriminadas pelos robustos sorrisos, que acreditavam que apenas eles poderiam transmitir felicidades para todos.
            Finalmente os sorrisos se reuniram, pedindo para o soldado Pensamento convocar uma reunião com o senhor Rei Coração. Assim foi feito.
         - O que querem? – perguntou o Rei.
        - Queremos que Vossa Majestade mande prender todas as lágrimas na cadeia da Cidade dos Olhos, pois são elas que trazem tristeza e dor a nossa terra. – justificou um dos sorrisos.
       - E o que meu povo ganha com isso? – questionou novamente o Rei.
       - Deixaremos o nosso povo mais feliz, sem interferência do choro pronunciado pelas lágrimas, Majestade.
        O Rei Coração pensou por alguns minutos e ordenou a prisão de toda e qualquer lágrima que ali morasse:
        - Soldado Pensamento, mande prender as lágrimas e as coloquem na cadeia da cidade dos olhos. Não deixe que nenhuma fique liberta. Diga ao meu povo que nossa Terra será absolutamente feliz. Nunca mais haverá choro aqui.
         Mesmo preocupado, o Soldado Pensamento cumpriu a ordem de seu rei. Todas as lágrimas daquela região foram encaminhadas para a Cadeia da Cidade dos olhos e aprisionadas ali para todo o sempre. Pelo menos essa era a idéia que se tinha.
               Um mês após a prisão das lágrimas, “sintomas” surgiram na região e “notícias” apareceram no jornal.
               “ Extra, extra... O Bar mais movimentado da cidade acaba de ser fechado. Lábios Bar noite e dia não possui mais seu brilho”. – Leu o Rei, com tamanho espanto.
             - Soldado Pensamento, não seria os Lábios o local de encontro da família Sorriso? – disse o Rei.
             - Sim meu Rei. – respondeu o Soldado Pensamento.
             - Por que então o jornal revela que o bar foi fechado?
             - As más línguas falam que os Lábios se fecharam, pois a família sorriso não mais conseguia manter o brilho do local.
             O Rei resolveu caminhar pela região e averiguar de perto o que estava acontecendo com seu povo.
            Na sua caminhada, o primeiro a encontrar foi o Sr. Nariz.
           - Como vai meu filho? – perguntou o Rei, dirigindo-se ao Nariz.
           - Cansado meu Rei.
           - Mas qual o motivo deste cansaço? Não era você que adorava respirar profundamente e intensamente, todas as manhãs?
            - Sim meu Rei... Não sei o que acontece comigo. Desde a prisão das  lágrimas, minha respiração anda frágil.
              Desconfiado que algo grave estava acontecendo com seu povo, o Rei prometeu que resolveria tal problema. Caminhou mais um pouco e, muito abatido e angustiado, resolveu voltar ao seu castelo.
              - Me diga Soldado Pensamento, acha que devêssemos libertar uma das lágrimas e observar se ocorre melhora em nosso povo? – perguntou Rei.
            - Só se for uma lágrima feliz, meu Rei.
            - Então vá até a prisão e ordene a libertação de uma lágrima feliz, mas somente uma.
              Imediatamente o soldado pensamento dirigiu-se a prisão. Uma vez todas as lágrimas reunidas, o soldado transmitiu a ordem do Rei:
              - Somente a lágrima cuja felicidade estiver dentro de si, poderá ser liberta.
               Uma agitação gigantesca ocorreu ao escutarem o pronunciamento do rei, transmitido através do Soldado Pensamento.
               A lágrima mais antiga tomou a frente e, em comum acordo com as demais, dirigiu-se ao Soldado:
             - Diga ao nosso Rei que aqui não há a lágrima que procura, pois com a prisão passamos a ser lágrimas de amargura. Mas, com sua presença e o pronunciamento esperançoso que o Rei nos fez, nasceu hoje, a pequenina lágrima do amor, cujo o sobrenome emoção motiva sua liberdade.
               Ao transmitir a mensagem das lágrimas ao Rei Coração, o mesmo pediu que essa pequenina lágrima fosse liberta e viesse ao encontro dele.
Toda a região, todos os moradores ficaram paralisados a espera da lágrima do amor.
               A  portas da cadeia da Cidade dos Olhos se abriram lentamente e apenas a pequenina lágrima, cuja emoção a fazia tremer, saiu timidamente para seguir seu caminho ao encontro do Rei. 
            Sua jornada havia sido iniciada. Pode sentir e apreciar a liberdade em sua estrutura, pela primeira vez. No caminho, encontrou alguém:
            - Quem é o senhor? – perguntou a lágrima.
           - Me chamo Nariz – disse o senhor, um tanto cansado.
             A lágrima o tocou e, sendo o Nariz acariciado por ela, voltou imediatamente a respirar com tamanha intensidade...
              Ao devolver o ar ao senhor cansado, a lágrima continuou seu percurso, chegando finalmente nos Lábios, local onde estavam todos os sorrisos.. Passando por lá, devolveu a todos, a arte de sorrir com brilho novamente.
           - Pedimos desculpas a você. Fomos nós que convencemos o Rei a prender sua família na cadeia da Cidade dos Olhos, sem imaginarmos as conseqüências que isso iria nos trazer.
           Pela primeira vez na história, uma lágrima sorriu. Os sorrisos então choraram, percebendo que a arte de chorar, pode também ser sinônimo de alegria. Sua jornada não parou por aí. Um pouco perdida e atrasada,  a lágrima finalmente chegou ao peito, região onde estava localizado o trono do Rei Coração.
          Timidamente, a lágrima se aproximou do trono e curvou-se em forma de respeito.
         - Diga seu nome, lágrima jovem. – disse o Rei.
         - Sou a Lágrima do Amor, majestade.
         - Aproxime-se. – ordenou.
        Ao se aproximar, o Rei Coração como a muito não fazia, tocou grandes canções ritimizadas através de suas batidas. Alegre, concedeu a lágrima um pedido.
        - Faça um pedido que eu atenderei como forma de agradecimento.
        A lágrima refletiu por alguns minutos e concluiu:
        - Peço que liberte a minha família.
        O rei a observou...
        - Farei isso. Mas antes quero que se ajoelhe perante mim.
         A lágrima sem nada entender, obedeceu de prontidão.
         Trombetas tocaram... O rei levantou uma espada e com voz alta concluiu.
         - No dia de hoje, reconheço essa lágrima que aqui está, como a Lágrima Salva Vidas...
          Há várias manifestações de sentimentos humanos... Podemos pronunciar um sorriso, sinalizando um nervosismo qualquer... Ou mesmo produzir lágrimas que refletem um momento de grande felicidade emocional... Ser humano é deixar extravasar qualquer sentimento, em forma de lágrimas ou de sorrisos!!!
FIM

Um comentário:

  1. Oi Daniel! Boa noite! Tive o imenso prazer de ler o seu livro, e adorei. Muito forte, realmente nos leva a pensa sobre muita coisa. Achei, no entanto que a diversidade de temas abordados em uma só obra, deixo o livro um tanto quanto surreal. Mas isso não diminuiu a sua beleza, a sua intensidade. Inclusive, acho que seu livro é perfeito para esclarecer aquelas pessoas que tem um gay como amigo, como filho, como parente mas o trata como se fosse um nada, somente pelo fato dele amar um outro homem. Penso em encaminhar o exemplar de presente para minha mãe. Nunca contei a ela sobre minha opção e creio que ela já sabe mas nunca me disse nada. Quero que ela leia este livro pra ver que o filho dela continua sendo o mesmo e que ama acima de qualquer coisa. Obrigado por esta obra fantástica. Forte abraço.

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